Algumas citações do discurso do Papa Bento XVI aos membros da assembleia geral da Organização das Nações Unidas (ONU): New York 18 Abril 2008 :
...
Todo Estado tem o dever primário de proteger a própria população de violações graves e contínuas dos direitos humanos, como também das consequências das crises humanitárias, sejam elas provocadas pela natureza ou pelo homem. Se os Estados não são capazes de garantir esta protecção, a comunidade internacional deve intervir com os meios jurídicos previstos pela Carta das Nações Unidas e por outros instrumentos internacionais. A acção da comunidade internacional e de suas instituições, considerando o respeito dos princípios que estão na base da ordem internacional, não tem por que ser interpretada como uma imposição injustificada e uma limitação de soberania. Pelo contrário, é a indiferença ou a falta de intervenção que causa um dano real.
…
É certo que as vítimas da opressão e do desespero, cuja dignidade humana se vê impunemente violada, podem ceder facilmente ao impulso da violência e converter-se elas mesmas em transgressoras da paz. Contudo, o bem comum que os direitos humanos permitem conseguir não pode ser adquirido simplesmente com a aplicação de procedimentos correctos nem tampouco através de um simples equilíbrio entre direitos contrapostos.
…
A Declaração foi adoptada como um «ideal comum» (projecto) e não pode ser aplicada por partes separadas, segundo tendências ou opções selectivas que correm simplesmente o risco de contradizer a unidade da pessoa humana e, portanto, a indivisibilidade dos direitos humanos.
…
Portanto, os direitos humanos hão-de ser respeitados como expressão de justiça, e não simplesmente porque podem fazer-se respeitar mediante a vontade dos legisladores.
…
O discernimento mostra como o confiar de maneira exclusiva a cada Estado, com suas leis e instituições, a responsabilidade última de conjugar as aspirações de pessoas, comunidades e povos inteiros pode ter às vezes consequências que excluem a possibilidade de uma ordem social respeitosa da dignidade e dos direitos da pessoa. Por outra parte, uma visão da vida enraizada firmemente na dimensão religiosa pode ajudar a conseguir tais fins, já que o reconhecimento do valor transcendente de todo homem e toda mulher favorece a conversão do coração, que leva ao compromisso de resistir à violência, ao terrorismo e à guerra, e de promover a justiça e a paz.
…
A actividade das Nações Unidas nos anos recentes assegurou que o debate público ofereça espaço a pontos de vista inspirados em uma visão religiosa em todas as suas dimensões, incluindo a de rito, culto, educação, difusão de informações, assim como a liberdade de professar ou escolher uma religião. É inconcebível, portanto, que os fiéis tenham de suprimir uma parte de si mesmos – sua fé – para ser cidadãos activos. Nunca deveria ser necessário renegar de Deus para poder usufruir os próprios direitos. Os direitos associados à religião precisam de protecção, sobretudo se forem considerados em conflito com a ideologia secular predominante ou com posições de uma maioria religiosa de natureza exclusiva. Não se pode limitar a plena garantia da liberdade religiosa ao livre exercício do culto, mas é preciso considerar a dimensão pública da religião e, portanto, a possibilidade de que os crentes contribuam na construção da ordem social.
…
As Nações Unidas continuam sendo um lugar privilegiado no qual a Igreja está comprometida a levar sua própria experiência «em humanidade», desenvolvida ao longo dos séculos entre povos de toda raça e cultura, e colocá-la à disposição de todos os membros da comunidade internacional. Esta experiência e actividade, orientadas a obter a liberdade para todo crente, tentam aumentar também a protecção que se oferece aos direitos da pessoa. Tais direitos estão baseados e enquadrados na natureza transcendente da pessoa, que permite a homens e mulheres percorrer seu caminho de fé e sua busca de Deus neste mundo. O reconhecimento desta dimensão deve ser reforçado se quisermos fomentar a esperança da humanidade em um mundo melhor e criar condições propícias para a paz, o desenvolvimento, a cooperação e a garantia dos direitos das gerações futuras.
Tradução: Élison Santos. Revisão: Aline Banchieri in www.zenit.org